sábado, 27 de outubro de 2012

A Relatividade da Velocidade

O pequeno caixote plástico com quatro rodas que havia visto a luz do dia pela primeira vez em Zwickau seguia no seu lento pináculo de aceleração pelas ruas de Titograd, transportando no seu minúsculo e desconfortável interior Hans Jürgen e Hans Jörg, agentes especiais da STASI e o pé-de-cabra utilizando para franquear a entrada no armazém onde estavam guardados os cartazes propagandistas do líder Tito, a fim de enfeitar os mesmos na zona supra labial do Marechal  com garbosos bigodes stalinescos. Mais do que pelos seus dotes gráficos que estavam muito perto da mediocridade, ambos haviam sido seleccionados para esta operação por serem os únicos nos quadros da polícia politica comunista capacitados a permanecerem dentro da viatura sentados no banco da frente sem dobrar joelhos nem pescoço por terem apenas 1,65m de altura.

No seu encalce e camuflado pela espessa nuvem de óleo vaporizado expelido pela viatura alemã seguiam os jugoslavos Ivan Dudic e Zvonko Zivkovic ao volante de um pouco fiável bi-liugar  de fabrico nacional, cor ferrugem, por a ter em abundância, gritando hossanas aos teutónicos e clamando por uma foto, um autógrafo e se o clima surgisse, um capuccino no cume do Gorica, com vista para a cidade. Ao abrandar no cruzamento da Bulevar Svetog Petra Cetinsjkog com a Bulevar Stanka Dragojevica o inesperado tornou-se ocorrência, quando um canideo bi-color croata originário da Dálmacia e que seguia há longos quilómetros a ladrar atrás da lenta caravana solicitando ultrapassagem, provavelmente grogue pela constante ingestão de monóxido de carbono, chocou com a traseira do automóvel com matricula de Belgrado.

O porte avultado do animal causou a criação de um amplo espaço de armazenamento de mercadoria no automóvel ao encaixar na perfeição a bagageira e o porta luvas do mesmo, provocando a imediata imobilização dos balcânicos, deixando os clandestinos visitantes arianos escapar em fuga até à Alemanha Oriental natal. Enquanto esperavam pela assistência em viagem e perante o gélido ambiente exterior,  com sucessivas rajadas de vento do quadrante norte, Ivan e Zvonko regressaram aos estofos coçados do outrora fiel carro, e inserindo uma cassete no leitor deixaram ecoar pela avenida os acordes do Hino Nacional Soviético. Uma vez mais o Trabant tinha derrotado o Yugo na batalha dos piores carros do mundo socialista. Estava na altura de Josip Broz Tito abandonar o não alinhamento, fazer as pazes com a nação bolchevique e começar a importar Ladas.